quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Relatório da experiencia na igreja universal do reino de deus

Universidade Federal da Bahia / Escola de Dança
Relatório para Laboratório de Corpo II
(Experiência na Universal do Reino de Deus)

Graduanda: Isaura Tupiniquim

Minha percepção na experiência vivenciada no dia 20 de setembro, manhã de domingo na Igreja Universal do Reino de Deus, não será apenas de julgar tal espaço de atuação, mas principalmente o de me reconhecer numa perspectiva crítica ou no mínimo lúcida em relação à maneira como se organiza esse espaço e a minha presença quanto estrangeira no mesmo.
O que de imediato me chamou à atenção foi, a estrutura arquitetônica (grandiosa, porém crua em artefatos) situada numa avenida de grande fluxo urbano próxima a um dos mais movimentados shoppings da cidade, - local que olhava de longe e não tinha nenhuma pretensão de entrar, mas uma grande curiosidade por sua imensidão.
Adentrando esse espaço a primeira relação foi de estar numa empresa, percebendo a articulação discursiva, entre outras ações estratégicas no modo de se organizar dos obreiros, pastores e seguranças. Cada qual com sua função manipuladora (porque incapaz de uma simples mediação), e os fiéis por sua vez, estando como principal foco da discussão se relacionando fervorosamente com tal forma de espetáculo.
Selecionando pra vida tal obrigatoriedade suprema, os fiéis desse recinto, suponho, serem tomados normalmente por instabilidades emocionais e financeiras, me parecia o tempo inteiro que aquele lugar tão visivelmente vigiado e manipulado, era o espaço possível de uma maior exaltação das emoções mais íntimas (principalmente as de sofrimento de dor), sempre instigada é claro, pelo fervor constantemente dramatizado no discurso “bem” elaborado do pastor, que utiliza de ficções e casos tratados como verídicos para lançar a moral da estória de acordo com os valores ideológicos protestante.
Normalmente estabelecendo parâmetros materialistas (no sentido de pagar em dinheiro como forma de doação para garantir seu perdão e um espaço no céu), assim como, dicotomizando as relações, impondo valores e qualidades próprias aos gêneros, por exemplo, a mulher ainda vista como fruto do pecado.
A primeira relação corporal nesse ambiente é de estranhamento, a começar pela “nóia” do modo como se vestir e atuar nesse espaço sendo completamente avesso a ele. E me surpreendendo com uma grande maioria vestida de maneira “comum” e muitas de baixa renda. Pois a imagem explorada nesse mercado sagrado protestante está normalmente relacionada a uma limpeza própria de um status social, aludindo a uma possibilidade de céu.
O que ocorre é que de fato a angústia que circunda esse ambiente me atravessa o corpo de maneira vertiginosa – camerasmicrofonesdiscursoesquisofrenicolamentosoternosgravatasmulheresehomenssérios e muitos, muitos funcionários (obreiros) eficientes na dinâmica de entrega dos papeizinhos (envelope p/ dízimo e genoflexório).

As questões que ficaram são: Como se configura tal mecanismo de manipulação – estratégias políticas e de mercado? E qual o papel do capitalismo nessa organização?
O que leva tantas pessoas, independente da sua realidade de vida, a seguir essa idéia de mundo?
Qual a relação entre ficção e espetacularização da realidade baseada no medo e na carência?
Como se preparam os atores desse discurso, o que estabelecem para o corpo quanto condição expressiva?... e por ai vai!